29 abril, 2011

O anjo nos aponta o caminho

Por Shirley Pacelli 

Dizem que no Brasil o ano só começa depois do carnaval. Nós comprovamos essa tese. Vários encontros com grupos culturais do Alto Vera Cruz foram marcados e remarcados diversas vezes. O motivo? A turma estava ensaiando pra fazer bonito no desfile de BH. Achamos uma brecha na agenda dos grupos e conseguimos enfim fazer nosso primeiro contato ao vivo com o pessoal no fim de fevereiro. A equipe do “Rolé - Cultura e Cidadania” se reuniu na minha casa, no Santa Tereza, e seguimos para o Taquaril. Taquaril? Como assim? Já explico. O Conjunto Taquaril e o Alto são espécies de comunidades “irmãs”. O Taquaril foi formado por pessoas que não encontraram mais espaço de moradia no Alto e ocuparam o terreno vizinho. O curioso é que as mulheres das famílias é que construíram as casas. Os maridos saíam para o trabalho e elas colocavam a mão na massa, literalmente. Isso para evitar que outro lhe tomasse o terreno.  

Neste dia haveria o lançamento do projeto “Ponto de Memória” no Conjunto. Apresentações musicais, mostra de um vídeo da comunidade há dez anos e um “varal da memória” composto por antigas notícias sobre o local fariam parte da programação. No caminho nos perdemos e quase chegamos sem querer ao mirante do Taquaril (lugar lindo que a gente conta em outro post). Depois de algumas informações no caminho, chegamos à praça. Uma chuvinha fininha começou a cair...  

De longe reconheci Welligton Pedro, mobilizador cultural do Centro Cultural Alto Vera Cruz, o nosso anjo. Já havia clicado ele em apresentações do grupo de dança afro Calanga, quando ainda cobria eventos pela Regional Leste. Debaixo de uma árvore e com seu filho indo e voltando de brincadeiras em nosso entorno, Welligton conversou com o grupo. Em cinco minutos de bate-papo ele nos sugeriu pautas para mais de um programa. Aos poucos nos apontou diversos caminhos e possibilidades de produção.  

A primeira pessoa de quem ele nos falou foi Dona Isabel Carlos, hoje “a nossa poetisa”. Ele nos contou que ela é uma moradora antiga do Alto, que fazia parte das “Meninas de Sinhá” e que apesar de ser semi-analfabeta havia ganhado prêmios com seus versos. Também nos falou de grupos de capoeira, samba na Escola Israel Pinheiro, oficina de cinema “Sabotage” e da turma do grafitti. O Centro Cultural desde o início foi oferecido para sediar os encontros.  

Após a nossa “reunião”, nosso anjo se distanciou para ajudar outras pessoas da organização a montar a estrutura do evento. Mais tarde os homens presentes, Felipe Pedrosa e Bruno Alves, também se juntariam ao grupo para montar uma tenda.

A tarde se foi e com ela também nos despedimos. Muitas outras visitas seriam feitas daquele dia em diante, mas desta vez lá no Alto.

2 comentários:

  1. Muito bom vivenciar a história e a cultura do povo lá do Alto.
    Lembro-me, bem que quando criança, morando ainda na região de Venda Nova, fui com minha mãe e uma amiga dela (dessa eu não me lembro bem)à região que viria a ser o Taquaril. Nessa época, minha mãe também estava participando da invasão. Ela não "meteu a mão na massa" mas na lona sim. Fez um cercadinho e um barriquinho de lona. Contudo, ela não se mudou para lá, não sei o porque, e continuei a viver e crescer em Venda Nova.

    Parabéns pelo blog.
    paz!

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  2. Bacana saber que você e sua família também fizeram parte das histórias destas comunidades.

    Valeu!

    Em breve teremos novos posts.

    Abs

    Shirley Pacelli

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